sábado, 14 de abril de 2012

...Sonorizou Letrando XVI...

"Poesia, s. f.
Raiz de água larga no rosto da noite
Produto de uma pessoa inclinada a antro
Remanso que um riacho faz sob o caule da manhã
Espécie de réstia espantada que sai pelas frinchas de um homem
Designa também a armação de objetos lúdicos com empregos de palavras imagens cores sons etc. geralmente feitos por crianças pessoas esquisitas loucos e bêbados

Poeta, s. m. e f.
Indivíduo que enxerga semente germinar e engole céu
Espécie de uma vazadouro para contradições
Sábia com trevas
Sujeito inviável: aberto aos desentendimentos como um rosto

Sol, s. m.
Quem tira a roupa da manhã e acende o mar
Quem assanha as formigas e os touros
Diz-se que:
s e a mulher espiar o seu corpo num ribeiro florescido de sol, sazona
Estar sol: o que a invenção de um verso contém

Árvore, s. f.
Gente que despetala
Possessão de insetos
Aquilo que ensina de chão
diz-se de alguém com resina e falenas
Algumas pessoas em quem o desejo é capaz de irromper
sobre o lábio, com o se fosse a raiz de seu canto

Apêndice:
Olho é uma coisa que participa o silêncio dos outros
Coisa é uma pessoa que termina como sílaba
O chão é um ensino.
"

Manuel de Barros.

2 comentários:

Ale disse...

Doce Manoel,


Me encanta!

Aline Goulart disse...

Bela escolha.
Beijinhos estalados para você amigo.