domingo, 30 de outubro de 2011

...PasseAndando Por Ai VII...

"Nunca tive medo de envelhecer. De ver as mãos enrugar em sabedoria. Dos cabelos ficarem brancos como as nuvens que embelezam o céu. Nunca tive medo das pernas não terem força depois de ter corrido tanto por uma longa vida feliz. Nem da visão ficar turva pra guardar apenas na memória a beleza das flores. Envelhecer, pra mim, é presente de Deus. Meu medo é de dormir no amor, e vê-lo amanhecer velho. Da paixão esquentar o sangue durante à noite, e amanhecer velha. Medo da esquizofrenia das palavras envelhecidas em mim e nas pessoas. Medo de que a minha esperança sofra do mal de Alzheimer, e se perca por aí. Medo do coração enrugar de propósito, pela resistência ao amor, à generosidade, à afetividade e a fé. Minha maior tristeza é de ver envelhecer em mim vontade de ser constantemente melhor para àqueles que merecem que eu seja. De não reconhecer minha felicidade no espelho. Que meu respeito e amor próprio precisem de muletas, de óculos de grau e de cuidados especiais de enfermeiros. Tenho medo de ver envelhecer em mim a coragem de cumprir meus objetivos. De que esta mesma coragem permita que fios de cabelos brancos seja uma desculpa para não sair mais de casa. Medo de que a minha alegria perca a visão aos poucos, de que a minha imaginação sofra de Parkinson, e assim, trêmula, desista de existir. Tenho medo da velhice da educação e do respeito entre as pessoas. De que estas coisas fiquem preguiçosas e não queiram se manifestar. Mas, envelhecer com o tempo entregue por Deus, não temo. Quero ver os filhos dos meus filhos brincando com a minha lentidão nas pernas e com minhas gargalhadas tranqüilas. E, que o mesmo tempo que vier me tirar as cores dos cabelos e a firmeza nas palavras, não me impeça ser sempre uma criança na alma..."

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