terça-feira, 28 de janeiro de 2014

...PasseAndando Por Ai LXXXI...

"Gosto de marcas na pedra. Gosto de palavras esculpidas tão profundamente que serão precisas várias vidas para que deixem de ecoar. Gosto de nomes gravados no tronco de uma árvore, crescendo como cresce a saudade de momentos que nunca passam. Gosto do que perdura. Talvez venha daí o meu fascínio por coisas antigas. Por lugares abandonados. Por tudo o que já viu muita vida a acontecer. Gosto do que fica. Escrevinhar na areia é divertido. Sim. A inconsequência do efémero. A  facilidade de apagar e apagar e apagar. Esperar que a maré da manhã seguinte limpe do corpo e da alma qualquer palavra, qualquer vestígio. Divertido, inofensivo. Inócuo. Palavra chata essa... inócuo. Gosto mesmo é daquilo que deixa marcas. Tatuagens, cicatrizes, crateras. Vida vivida na pele, como ferro em brasa. Instantes como diamantes eternos. O único verdadeiro tesouro que podemos guardar. Gosto do que fica. Um dia, quando o anjo negro se sentar à minha cabeceira, pronto para me levar numa viagem, quero poder dizer que fui rica. Rica em vida, muita vida. Gosto de marcas na pedra."
 
 

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