sexta-feira, 14 de agosto de 2015

...PasseAndando Por Ai CIII

"Explico. Eu explico, tu explicas, ele explica, estamos todos sempre a explicar. E a nos explicar. Faz sentido. A gente é meio complicado. Cada cabeça carrega seus zilhões de certezas, misturadas à outras tantas sentenças, sinapses atrás de sinapses, neurônios se esbarrando sob o impacto dos nossos sentidos conhecidos e os outros tantos, pouco percebidos. Ainda. Por nós.

Talvez por isso exista a poesia. Lá, dentro de um poema, existe um mundo que não exige explicação. Você pode mudar o sentido das horas, acrescentar ou tirar sem ter que provar noves fora, você pode liberar a cachola como se não existisse mais nada nem ninguém pra quem explicar do lado de fora.

Não existe explicação que se aplique às nossas licenças poéticas. Ainda que muitas delas sejam patéticas. Uma coisa pode começar exatamente onde a lógica exige terminar, você pode se sentir feliz ainda que não haja motivo, e você pode esticar os conceitos, e chamar o amor do seu jeito, você pode se expressar sem receio, acabar uma frase no meio, e entre um isso e um aquilo sem nome, você pode, simplesmente reinar.

Poesia é reino, de um servo só. E só, nem sempre quer dizer único. Ou sozinho. Pode ser um belo caminho. Um estribilho, o caos de um redemoinho, pode ser a margem de um riozinho, ou um barco, a remo, pode ser um lugar ermo, conter as dores de um enfermo, perdoe-me os termos, mas é que eu não sei explicar. Eu só sei chegar ao fim do dia, lamentar as palavras perdidas, e ainda que escapem-me os sentidos, sem os pudores da explicação, acabo me misturando a elas, que chão!, em busca de alguma poesia que me acalme o coração."

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